quarta-feira, janeiro 21, 2009

Quando fala mais alto.

Eu não consigo dar forma à beleza que tu és,
Sei apenas que habitas no meu desejo de mulher.
Às vezes, te penso ser uma ninfa alada,
Que voa ignorando os homens, imune ao amor,
Planando por sobre a ventania dos meus suspiros.

Em outras, te vejo flutuar, brincando nos meus sonhos,
Meu anjo de quatro asas,
Ingênuo, de uma forma beleza nunca descrita,
Penso que tu não és um corpo, tu és um sentimento.

Tu és tão real que me machuca o peito,
Dói, que posso esbarrar-me em ti, mas não te tocar;
Aliviaria-me se fostes apenas invenção da minha parte,
Letras inventadas do jardim da rósea flor,
Suspiros de sonhos inconstantes,
Uma romã que pende invadindo a minha poesia.

Ah, como dói!
Tu és de mim tão perto, que me machuca,
Tua carne me fere, teu sangue me lastima,
A tua fala é meu suplício,
A agonia numa bandeja de prata,
Como dói...

Dói tanto,
A dor da ilusão concretiza o que me prega enfermo,
Tão perto és que me flagelas,
Tu existes, sei... tanto é que dói em mim.

Tão perto que me machuca,
Teu cheiro que me alucina,
Tua boca é o meu anseio,
Incólume, o teu corpo é devaneio.

A dor da paixão é tão sofrida e injusta...
Não se respira sem que não sangre,
Nem que se pense sem que se consuma,
A alma ardente dói, borbulha,
Tifo sem cura. Larva de pendores.
Um breu algoz nas docas de minh’alma.

Dói, tanto amor que não morre,
Dói, desejo cheio de pulso desesperado,
Dói, complacência que se revolta em mim,
Dói, por tanto é peito despedaçado.

Quisera eu poder te aprisionar
Por entre os meus versos,
Tu reinarias, rainha absoluta dos meus vales e reinos,
Tu serias dona absoluta do meu mundo de palavras,
Porque tu és a minha própria palavra.

Tu és o que o poeta tem por sina e sentença,
Um coração desesperançado, desacreditado,
Dentro de um armário embutido e escuro,
Numa casa sem paredes, mas cheia de portas.

Poderias viver dentro dos meus versos,
Todas as manhãs o sol beijaria o teu rosto,
E as flores com seus néctares te alimentariam,
Eu viria disfarçado num céu azul para te admirar,
Ordenaria os girassóis te reverenciarem,
Enquanto as estrelas te banhariam à tarde.

Por entre os meus versos te faria mais minha,
Pois quando te escrevo é quando és minha,
E tu caminharias por sobre os horizontes,
Abençoada pelo crepúsculo.

A lua pousaria por sobre os teus cabelos,
Num brilho eterno e majestoso,
E o sol dormiria no teu regaço,
E cada flor teria o gosto dos teus beijos,
Enquanto rouxinóis cantariam na eternidade,
Ela é linda! Ela é linda!
O resplandecer que seduz!

Tu, lúgubre ao luar,
No teu corpo eu escreveria,
Eu o cobriria feito tatuagem de versos de amor,
E te leria a cada instante,
Traço por traço, linha por linha,
Beijo por sobre beijos,
Vou-te de capa à contracapa,
Eu, terra de lua minguante.

Eu quisera poder te aprisionar nos meus versos,
Assim, eu viveria mais tu,
Desvestindo a carne, compactuando a alma,
E essa ponte que nos separa,
E esse mar que me afoga,
Uma sede que não se exaure,
Fome alucinógena, mater-angústia,

Testemunharia um amor que nunca se acaba,
Porém não se completa,
Porque o universo é o início de tudo o que nos separa,
E mesmo que haja você sem mim,
Eu nunca haverei de existir sem você.