terça-feira, julho 21, 2009

Por te amar tanto assim.

Foram tantas vidas que vivi
Em tão pouco que te amei
Sozinho, como um claustro senti
Tão a insígnia que eu te dei.

Foram tantos sonhos, tantas esperanças
Um sentimento cravado feito lança
Uma carne cingida, um espírito andaluz
Velho torpor em pujança, tanto que eu te amei.

Há um poeta em mim que Deus me disse
Somente assim para suportar esse amor
Que em me castigar ainda persiste
Sou ainda uma alma em claustro sóror saudade
Tísica dor pranto amor que de sina herdei.

Mas que poema canto para que lhe fale a alma?
Para te amar tanto assim
Foi preciso separar o corpo do espírito
E o coração suplantei
Mas que fazer se hei-lo assim
Em doce suplício há tempos te entreguei?

segunda-feira, julho 06, 2009

Se eu morrer...

Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.

Neruda.

quinta-feira, julho 02, 2009

Então vá...

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Neruda.