sexta-feira, janeiro 23, 2009

Do impossível.

Eu vim de tão longe somente para te amar,
Vim de onde os cisnes dançam tua memória,
Vim de onde os rouxinóis cantam tua história,
Eu vim de longe só para te enfeitiçar.

Eu vim dos sítios das selvagens orquídeas,
Onde tu, mulher, delas é o supremo ser;
Eu vim de onde o amor se faz você,
Caminhei na noite onde teu nome tilintam as estrelas.

Eu vim para testificar o teu sorriso,
Árduo trabalho, num gesto louco de bravura,
Roubar-te um beijo, morrer depois se preciso.

Puro desdém. Amar-me jamais tu poderias,
Meu coração uma inocência pura,
Pobre tolo, vivo a contar tua ausência em meus dias.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Quando fala mais alto.

Eu não consigo dar forma à beleza que tu és,
Sei apenas que habitas no meu desejo de mulher.
Às vezes, te penso ser uma ninfa alada,
Que voa ignorando os homens, imune ao amor,
Planando por sobre a ventania dos meus suspiros.

Em outras, te vejo flutuar, brincando nos meus sonhos,
Meu anjo de quatro asas,
Ingênuo, de uma forma beleza nunca descrita,
Penso que tu não és um corpo, tu és um sentimento.

Tu és tão real que me machuca o peito,
Dói, que posso esbarrar-me em ti, mas não te tocar;
Aliviaria-me se fostes apenas invenção da minha parte,
Letras inventadas do jardim da rósea flor,
Suspiros de sonhos inconstantes,
Uma romã que pende invadindo a minha poesia.

Ah, como dói!
Tu és de mim tão perto, que me machuca,
Tua carne me fere, teu sangue me lastima,
A tua fala é meu suplício,
A agonia numa bandeja de prata,
Como dói...

Dói tanto,
A dor da ilusão concretiza o que me prega enfermo,
Tão perto és que me flagelas,
Tu existes, sei... tanto é que dói em mim.

Tão perto que me machuca,
Teu cheiro que me alucina,
Tua boca é o meu anseio,
Incólume, o teu corpo é devaneio.

A dor da paixão é tão sofrida e injusta...
Não se respira sem que não sangre,
Nem que se pense sem que se consuma,
A alma ardente dói, borbulha,
Tifo sem cura. Larva de pendores.
Um breu algoz nas docas de minh’alma.

Dói, tanto amor que não morre,
Dói, desejo cheio de pulso desesperado,
Dói, complacência que se revolta em mim,
Dói, por tanto é peito despedaçado.

Quisera eu poder te aprisionar
Por entre os meus versos,
Tu reinarias, rainha absoluta dos meus vales e reinos,
Tu serias dona absoluta do meu mundo de palavras,
Porque tu és a minha própria palavra.

Tu és o que o poeta tem por sina e sentença,
Um coração desesperançado, desacreditado,
Dentro de um armário embutido e escuro,
Numa casa sem paredes, mas cheia de portas.

Poderias viver dentro dos meus versos,
Todas as manhãs o sol beijaria o teu rosto,
E as flores com seus néctares te alimentariam,
Eu viria disfarçado num céu azul para te admirar,
Ordenaria os girassóis te reverenciarem,
Enquanto as estrelas te banhariam à tarde.

Por entre os meus versos te faria mais minha,
Pois quando te escrevo é quando és minha,
E tu caminharias por sobre os horizontes,
Abençoada pelo crepúsculo.

A lua pousaria por sobre os teus cabelos,
Num brilho eterno e majestoso,
E o sol dormiria no teu regaço,
E cada flor teria o gosto dos teus beijos,
Enquanto rouxinóis cantariam na eternidade,
Ela é linda! Ela é linda!
O resplandecer que seduz!

Tu, lúgubre ao luar,
No teu corpo eu escreveria,
Eu o cobriria feito tatuagem de versos de amor,
E te leria a cada instante,
Traço por traço, linha por linha,
Beijo por sobre beijos,
Vou-te de capa à contracapa,
Eu, terra de lua minguante.

Eu quisera poder te aprisionar nos meus versos,
Assim, eu viveria mais tu,
Desvestindo a carne, compactuando a alma,
E essa ponte que nos separa,
E esse mar que me afoga,
Uma sede que não se exaure,
Fome alucinógena, mater-angústia,

Testemunharia um amor que nunca se acaba,
Porém não se completa,
Porque o universo é o início de tudo o que nos separa,
E mesmo que haja você sem mim,
Eu nunca haverei de existir sem você.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Relicário

Ante aos meus olhos iconoclastas,
Acendeu-se a chama.
Dize, dize o que eu faço agora?
E mais e bem, de repente, surge como uma lança,
A serenidade lacônica dos teus olhos.

Somente o que eu lembro,
É de até hoje minha alma presa,
Tuas palavras de amor mornas e lentas,
De um olhar que não mais brilha,
E quanto a mim, eu, por final nunca amado.

E dos lábios frêmitos, fez-se o drama,
Das mãos que entoaram sinfonias de carinhos,
Cerram-se dois caminhos.
Dize, Dize para mim, por que assim?
Por que esse engodo,
Se não me percebes mais por inteiro?

Este perfume à natureza,
Numa forma de mulher, cheia de trejeitos,
Amar-te era como Flutuar nas procelas,
Em febre lestada.

Eu morro ontem, e renasço amanhã,
Sobre a cama desvanecida.

Tu és a minha agonia presa,
Senhora e tutora de todos os beijos
Que nunca haverei de dar,
És, o tremer de toda a nudez inconformada,

És detentora de todos os laços indubitáveis de minhas memórias,
És a que transforma todos os meus desejos em abandono...
Tu és uma ponte sobre o sol,
De olhos sujos de um amanhã que nunca morre,
Raiando na palma da minha mão, quente,
Lascivamente quente.
Tu és o fim trágico de todas as histórias de amor.

Diga-me mais uma chance,
Deixe-me começar novamente,
Dar-te-ei uma pérola de presente,
Por tanto quanto és minha,
Quanto tanto és ausente.

E de repente, no mais que se faz presente,
Os erros suplicam os perdões,
O fracasso, uma nova chance,
E para o amor impossível, o tempo,
Somente o tempo, moroso e pertinente tempo,
Para me livrar dos pesarosos grilhões.

E de repente, não mais só que de repente,
Nossas bocas nunca se apartaram,
Porque não viveram,
Nossos olhos se esqueceram,
Porque nunca se entreolharam,
Nossos corpos língua estrangeira falam,
Enquanto a lágrima toma posse do último estertor.

E de repente, não mais que de repente,
Vivo o hoje de mim sem (com) você,
Como uma fome repentina que não sacia,
Um choro com riso por primeiro,
Um riso de clamor e desespero.